segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Hoje

Hoje ouvi disfarçadamente,
palavras que me haviam sido negadas,
sons que, propositadamente, alguém escondeu
dentro de ti.

Hoje ouvi e pensei: como tudo
perde o sabor ao fim de
pouco tempo.

Hoje saboreei palavras que não serão repetidas,
momentos que excederam o
excedível.

Hoje sei que este sentimento
que renasce é, no seu âmago, um
sem fim de palavras
e horas mortas.

Hoje sei.
Amanhã talvez...

Tantas vozes

Tantas vozes! Tantas vozes! TANTAS VOZES!
Todos e todos os dias um sem fim de TANTAS VOZES
que até me arrepio todo,
porque sei que com elas há,
necessariamente

Tantas conversas! Tantas conversas! TANTAS CONVERSAS!
E ao fim do dia já estou louco com TANTAS CONVERSAS
sobre nada.
Uma inutilidade e um desperdício.
De tempo. De palavras. De tudo.

O que me vale é que, nestas alturas
eu só ouço

tantasvozestantasvozestantasvozestantasvozestantasvozestamtasvozes...

Implosão

A minha alma,
vazia e aberta
abre-se completa
ao vento carnal
que a devorará
em parte incerta.

O espaço físico que preencho
sodomizado pela força
da implosão do meu ser.
A minha voz a ser e a querer.
O meu arbítrio a completar.

O mundo, agora quieto,
leve na palma da minha mão,
o silêncio do vazio,
o descanso total esquartejado
em mim.

O absinto, o indizível.
A alucinação, provavelmente,
totalmente gorada.
UM sopro no coração.
O mundo só, irrequieto.

A minha mão, a preencher
e a reeducar, a minha alma
renascida em cinzas.
UMA só alma em mim.

O meu mundo, e o teu,
amável e satisfeito,
com ânsia de engrandecer
a asfixia da carne.
A minha voz a segredar as coisas.
O segredo a revelar-se.

A minha mão fechada.

domingo, 11 de outubro de 2009

Gostava de te dizer baixinho
palavras de amor como
carinho
mas não posso...

Gostava de te sussurrar ao ouvido
dialectos oriundos de um tempo já
perdido
mas não quero...

Porque será?

O teu sangue

Fingiste, falsificas-te todo
o teu sangue
que escorre agora no som
do mundo e da calcificação

O teu sangue é falso
A tua língua morta
esconde, furta,mistifica
como de costume,
mas agora é (in)diferente:
ruínas não mentem,
cacos não morrem,
eu não deixo.
EU NÃO PROMETO.

A percepção é uma questão de percepção.